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Saudada como poeta "genial" por Menotti del Picchia já nos anos 60, Rita Moreira trocou seus leitores por espectadores e acumulou alguns prêmios como videomaker até que, nestes anos 90, a poesia se intrometeu de novo. Perscrutando o Papaia prova que ela continua a mesma, ainda que mudada. A mesma: dicção única, concisão, ironia. Destoando de um mau hábito destas plagas - onde se mede a seriedade dos poetas pelo tédio que suas abstrusas sintaxes provocam no leitor - os poemas de Rita são transparentes, fluentes, não manifestos literateiros. E no que a poeta mudou? Maturidade é leveza. O humor - riso leve ou risada aberta - abrandou a brusquidão e secura das coisas. Perscrutando o Papaia é uma espécie de volta da poeta a si mesma, brilhante, imoderada e serena. 

(extraido do prefácio, por Marília Pacheco Fiorillo)




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Alguns poemas do livro Perscrutando o Papaia:


IDADE

Alguém que te vista a meia
e depois te traga a canja:
será só uma enfermeira
ou a metade da laranja?


MÃE MODERNA

Mesmo longe, a viajar,
sempre comigo.
Pendurados no celular,
neo-umbigo.


ARROZ JAPONÊS

Mastigando o arroz branquíssimo
o japonês budista
parou de comer de repente:
lembrou as costas curvadas
da camponesa velhinha
e sentiu uma pontada
bem na raiz do dente.


IPSIS

A palavra é ainda
a mais sublime invenção.
Mas tem tanta coisa linda
que escapa à nomeação!


SABERES

Tu tens uns saberes
--que tens, mas não sabes--
iguais aos saberes
das águias, das aves!

Tu tens uns saberes
--mas não lembras nada--
que te dão poderes
de anjo, de fada!

Tu tens uns saberes
gigantes nas preces.
No entanto esqueces
o quanto são teus
os tais que os crentes
chamam docemente
saberes de Deus.